Uma mulher, que está pronunciada por burlar o patrão em mais de 80 mil euros, quando era sua empregada doméstica, em Coimbra, disse ao Tribunal de Coimbra que as quantias em dinheiro lhe foram "emprestadadas".
Na primeira sessão do julgamento, que decorreu ao longo de toda a manhã segunda-feira, 15 de maio, a arguida explicou que o seu patrão, um homem idoso e sozinho, lhe foi emprestando várias quantias, entre 2015 e 2019, que eram descontadas mensalmente do ordenado.
A residir na casa do idoso e com um vencimento de mil euros mensais, admitiu que, a dada altura, deixou de pagar os empréstimos, depois de o patrão lhe ter dito que as contas estavam "emprestadadas".
Entre as suas funções, para as quais foi contratada, depois de ter respondido a um anúncio no jornal Diário de Coimbra, figuravam a responsabilidade de cuidar da casa, fazer as compras necessárias para a alimentação, auxiliar em tarefas do quotidiano, incluindo conduzir o veículo do seu patrão.
De acordo com a mulher, de 61 anos, o patrão, "um homem lúcido, perspicaz e que não se deixava enganar", transferia-lhe o ordenado, bem como valores para pagar despesas da casa, para uma conta para a qual lhe deu um cartão multibanco.
Durante os primeiros anos iam conferindo as contas, o que admitiu que deixou de acontecer em data que não soube precisar.
A mulher de 61 anos evidenciou que todos os levantamentos eram feitos com autorização e conhecimento do patrão, que tinha acesso aos extratos bancários.
Nesta primeira sessão do julgamento foi ainda ouvido, como testemunha, o filho "do meio" da vítima, empresário da construção civil, que explicou que, ao longo dos cinco anos, notou uma crescente proximidade do seu pai com a empregada doméstica, que inclusive conduzia o seu Jaguar, com o qual chegou a sofrer um acidente.
Ao Tribunal de Coimbra contou que, como a empregada doméstica não devolveu as chaves de casa, trocaram as fechaduras, tendo-lhe depois feito chegar os seus pertences.
Foi nesta altura que disse ter encontrado cartas endereçadas à empregada doméstica, que terão sido enviadas para o estabelecimento prisional durante os três meses em que esteve ausente.
Segundo o filho da vítima, naquela capa o seu pai documentava tudo o que era emprestado ou dado e "não era por ser filho ou não que facilitava mais nos negócios".
Depois do internamento, o idoso acabou por "perder a memória", encontrando-se atualmente "num lar".
A próxima sessão de julgamento está agendada para a manhã de dia 5 de junho.